No ringue da vida!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Chafic Jbeili - www.chafic.com.br

Conheci um jovem de meia idade cujo objetivo na vida era se tornar um homem de bem e dar o melhor que pudesse para sua família. Ser, na velhice, um ancião de respeito, útil a todos. Um bom pai, um bom provedor, um bom cidadão. Lutou, esbravejou, caiu quantas vezes e reergueu-se outras tantas.

Mais maduro e experiente vive a vida como se fosse um guia que aprendeu o caminho das pedras e agora vive a conduzir pessoas ou pelo menos tentar alertá-las dos perigos do caminho. Por isto tão zeloso, super protetor e, às vezes, até meio ranzinza, exigente.

Com motivo! Pois o tempo e a experiência são implacáveis e sempre cobram das pessoas aquilo que estas fazem sem aqueles. Mas como adquirir experiência senão pelo próprio fazer? Bandura, contemporâneo de Skinner defendeu a teoria do condicionamento vicário, onde cada pessoa aprende com a experiência do outro. Não é preciso ir ao México e pegar gripe suína para atestar sua existência e efeitos.

Por muitas razões, o moço queria ser compreendido em sua experiência de vida. Desejava ser reconhecido por suas características mais nobres, mas as pessoas, em especial suas companheiras, cada uma a seu tempo, eram demasiadamente limitadas para enxergarem além da aparência rabugenta e de seu jeito implicante, minucioso, detalhista, extremamente reflexivo e profilático. Aliás, todo profilático é visto como um chato! Todo cuidadoso como medroso! Não é bem assim, tentava justificar-se o jovem.

Mas o moço oblíquo aos olhos de suas companheiras não conseguia traduzir suas próprias traduções de vida, quando na verdade só queria compartilhar o que aprendeu e evitar a repetição das experiências negativas. Se sentia como falasse outra língua, assim como na Torre de Babel.

O jovem amadurecido aprendeu que crianças fazem coisas de crianças e que estas não podem ser tratadas como adultos baderneiros, mas como crianças em fase de experiência, onde o aprendizado vicário ainda lhe é impossível pela baixa capacidade reflexiva e elaborativa. E por isto é imperativo o tato na lida e educação com os infantes. O diálogo deve prevalecer sobre a ameaça e a punição, nunca o contrário. A psicologia comportamental que o diga!

Como alertar aos responsáveis que crianças estressadas, acuadas, indiscriminadamente punidas na alma quando não se tornam adultos depressivos, adotam comportamento rígido consigo e com os outros e depois de anos sendo ameaçadas e incompreendidas pelos pais, precisarão de outros tantos anos no divã, na cadeia ou sei lá aonde? Salvo raríssimas exceções, o oprimido de hoje se tornará o opressor de amanhã.

O jovem aprendeu que diálogo em qualquer faixa etária pressupõe alquimia entre humildade, sabedoria, inteligência e cultura correspondente e adaptada entre as partes. Tentar dialogar utilizando linguagem incompatível é tão sem proveito quanto lançar penas ao ar. Aquele que não sabe e não sabe que não sabe, ignore-o, sem culpa!

O jovem aprendeu que pode e deve ser reconhecido e respeitado naquilo que faz, ao invés de apagar suas qualidades e virtudes, pois seria como apagar todas as páginas de um livro para torná-las mais adequadas a quem não compreende as letras.

Por que não instruir o iletrado ao invés de apagar as letras? Por que não despertar o espírito reflexivo naquele que não compreende o pensar, ao invés de dizimar o pensamento? Nulificar o pensamento é nulificar a existência. Quem não pensa, não existe, pelo menos enquanto pensante! E de que adiantaria existir como humano se não for pelo privilégio de pensar? Para agir como cão? Movido pela fome ou pelo cio? Ora abanando o rabo, ora mostrando os dentes, ora enterrando ossos...

O moço aprendeu pensando que poderia ser bem mais sucedido se a companheira fosse realmente companheira ao invés de tentar competir com ele, pois a competição mina os relacionamentos, enquanto a cooperação promove o bem estar e edificação de todos. Vamos ver quem ganha mais? Vamos ver quem é melhor pai/mãe? Vamos ver quem é mais eficiente? Vamos ver quem é mais estável? Quem é mais esperto? Quem depende mais de quem? Na verdade disputam quem é o mais idiota.

O moço aprendeu que um homem de sucesso depende de uma mulher zelosa, que cuida, defende, incentiva, tem olhar terno e voz suave. Quando fixa seu olhar expressa admiração, respeito, amor, ao invés de raiva, inveja, ciúmes, reprovação ou descaso. Ela usa de sabedoria para edificar sua casa. Esta corrige para o crescimento e não para o escárnio, pois um homem, um filho/a que se faz sentir amado, valorizado pode ir além de suas possibilidades, enquanto aquele que é rechaçado, ridicularizado, desacreditado busca alento em qualquer coisa que lhe dê prazer e sua amargura é visível em seu semblante e perceptível em suas palavras.

O jovem moço aprendeu que um homem vilipendiado pela companheira não passará nunca de um menino carente em busca de alguém que lhe afirma suas virtudes e qualidades, não importa se estão afloradas e visíveis ou encruadas e subliminares, a busca será eterna enquanto houver esperança.

O jovem só não havia aprendido ainda como romper as amarras da angústia e do viver mal amado, mal reconhecido, mal valorizado, mal querido, mal compreendido, mal interpretado. Não aprendeu ainda realizar o desejo de amar quem realmente lhe ama, pois talvez este seja o maior segredo da vida: orar por todos, inclusive pelos inimigos e amar quem o ama de verdade, seja lá quem for. Seja lá quem se candidate!

No jogo da competição, o boicote ativo ou passivo são as vias de acesso para o pódium da amargura. A competição é o pálio que cobre o ringue da vida, que acaba com os relacionamentos, ceifando sonhos e expectativas. O troféu dos parceiros, casais, sócios competidores entre si é a discórdia, o divórcio, a bancarrota, a despersonalização, a traição, o vazio, o nada.

O sinal da competição é o desafeto, mas o sinal do amor é a cooperação. Se você se encontra no ringue da vida ou conhece alguém que esteja em algum ringue da vida, em competição e não em cooperação, desça ou faça descer, pois não importa qual seja o tema destes eventuais ringues, jamais estará presente o amor e não havendo amor, nada daquilo que se disputa valerá conquistar.

Abraços,
Prof. Chafic Jbeili
Psicanalista e Psicopedagogo
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