Prof. Chafic Jbeili
Já parou para pensar que o anjo ou o monstro que permeia a sua própria mente ou o pensamento do outro pode ser você?
Eu sempre tive medo do escuro. Não sabia o que havia lá, a não ser o que a minha imaginação arranjasse. Na escuridão, havia os seres mais esquisitos e mais nefastos que minha memória lembrava ter visto nos desenhos, nos filmes ou que eu ouvia nas histórias que me contavam. Bastava uma leve penumbra e as mais horrendas criaturas começavam a surgir desinibidamente, causando-me arrepios, fazendo-me recolher para debaixo das cobertas, mas também me faziam lembrar os anjos e a proteção divina e de meus pais. Eu corria para o colo da mamãe ou do papai, orava e o medo ia embora.
Interessante é que eu nunca fui atacado e agredido fisicamente por qualquer uma daquelas criaturas imaginárias, lógico, embora elas fossem fantasiosamente reais e terrivelmente assustadoras.
Eu cresci, aprendi algumas coisas sobre imaginação e descobri que na verdade os meus monstros nunca existiram, a não ser na minha cabeça, onde elas foram implantadas e, posteriormente, majoradas por mim.
Durante algum tempo eu reproduzi as caretas e os gestos daquelas criaturas. A idéia era fazer com meus irmãos, primos e amigos aquilo o que os monstros faziam comigo: assustar e fazer correr! Eu me divertia com a brincadeira, pois representava bem o assombroso papel.
Eles, os monstros imaginários, pareciam fortes e imbatíveis, mas bastava uma simples lanterna e eles desapareciam instantaneamente. Nenhum monstro é mais forte que os braços de um pai corajoso ou a fé de uma mãe zelosa. Foi e ntão que eu descobri o poder da luz e dos pais, nossos primeiros super-heróis. A claridade e o colo me davam segurança e devolviam minha coragem. A quem temer se eu tinha uma lanterna nas mãos, além do super-homem e a mulher maravilha bem no quarto ao lado!
Mais tarde, quando servi o exército, descobri que a mesma luz que afastava as criaturas sombrias da minha mente também me delatava aos inimigos visíveis e, então, precisei fazer as pazes com a escuridão, pois ela iria me proteger dos meus oponentes e o sargento disse que eu não podia chamar meus pais.
Na escuridão eu me tornava invisível e a invisibilidade me oferecia vantagem estratégica contra as ameaças reais. Além disto, aprendi que era o medo que me preservava a vida, ao contrário da coragem, que me aproximava da morte.
Desde então, variavelmente, uso a luz pa ra fugir da parte obscura da minha imaginação e uso a escuridão para me proteger dos inimigos. Preciso da luz para aparecer e me fazer notar pelos amigos, mas preciso da escuridão para me esconder da extinção. Quando apareço para os amigos me revelo aos inimigos. Quando me escondo dos hostis oponentes, então sumo para aqueles que me querem bem, de modo que não dá para aparecer o tempo todo e nem sumir permanentemente.
é na luz do dia e no campo aberto que arrisco a vida em busca do alimento que me mantém vivo, mas é na caverna sombria, cheia de morcegos, que me defendo, resguardando a minha vida.
A aflição deste pique-esconde vivencial dá origem a ansiedade e inquietação, perturbando-me o espírito e a alma, provocando em mim certa irritação de humor, fazendo com que eu alterne meus modos entre gentileza e agr essividade. Ora sou cavalheiro, ora algoz. Digo meia dúzia de palavras bonitas para algumas pessoas e em outro momento estou ferindo o sentimento de alguém. A noite sou poeta, de dia sou gladiador. A noite escrevo estes textos, de dia vendo meus cursos.
Quando volto da noite sou alegre e afável, pareço um anjo, faço aproximar. Quando volto do dia grito, esperneio, firo com palavras, desprezo, esbravejo, vitupero, desdenho, rejeito, demito, faço caretas, assusto e faço temer. Tanto no claro quanto no escuro, aterrorizo, ponho para correr ou faço aproximar!
Há aqueles que temem o escuro, por não saber o que pode haver lá e ficam paralisados, não progridem porque não arriscam acender a lanterna das idéias. Porém, há aqueles que temem a luz dos holofotes e da atenção e não conseguem se expressar em público, rejeitam a promoção e não aceitam desafios. De forma que nosso maior problema não está no escuro ou na luz, mas no medo de ambos.
Vale à pena refletir nas palavras de Eleanor Roosevelt, quando diz: "Você ganha forças, coragem e confiança a cada experiência em que você enfrenta o medo. Você tem que fazer exatamente aquilo que acha que não consegue."
Quando pergunto a alguém sobre seus medos e quem é o anjo que a fascina ou o fantasma que a atormenta, ela diz: “você!”. Então, boquiaberto, descubro que o anjo e o monstro na cabeça do outro também pode ser eu! Meu Deus!
Amor eterno
Há 10 anos
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