Rodízio parental

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Chafic Jbeili – psicanalista e psicopedagogo

Lembra daquela teoria de que o rio sempre encontra um caminho para construir o seu leito, desviando das pedras? Esta idéia já rendeu ótimas interpretações sobre superação de obstáculos, persistência e determinação. Pois é, na reflexão de hoje a interpretação que irei usar é a de esquiva e deslocamento aplicados à responsabilidade dos pais em educar seus filhos.

Pais resistentes em aprender educar seus filhos não priorizam a educação como tarefa pessoal e intransferível. Deslocam - inconsciente ou descaradamente - esta tão sublime tarefa para outros como avós, empregada ou escola. Não há resposta criativa que justifique esta esquiva. Não é vergonhoso aprender educar filhos, aliás, é muito saudável e produtivo.

Filhos acreditam firmemente que seus pais são insubstituíveis e ninguém - além deles - poderá supri-los de amor e conduzir sua educação. Já os pais acreditam piamente que qualquer um pode “tomar conta” dos filhos e ensinar bons modos, em especial os professores, que são os guardiões da educação! Nesta questão, filhos têm mais discernimento e juízo do que seus pais.

Todos sabem que a família sofreu importantes transformações e, infelizmente, para pior. Pode-se aferir esta afirmativa pela qualidade de convívio social que se tem tanto entre crianças quanto entre adultos, e os noticiários são provas perfeitas de que a família, de modo geral, caiu muito na qualidade de produção de seus membros e futuros cidadãos: Corrupção política, falta de educação no trânsito, falta de cavalheirismo, falta de respeito, improbidades administrativas, sonegação fiscal, pequenos furtos, brigas, trapaças, submissão e manipulação do próximo, tudo isto se aprende em casa e se aprimora na rua, no convívio com outros tantos mau (com u mesmo) educados.

Neste processo, pais desorientados, porém soberbos, resistem aprender educar filhos e, ao invés disto, se empenham com afinco transferir responsabilidades específicas e elementares da educação de seus filhos para avós, empregada e escola. Naturalmente, a corda acaba arrebentando nas costas da vovozinha idosa ou do professor que já está sobrecarregado com a tarefa política de não reprovar ninguém e gerir salas superlotadas, contaminadas pela hipocrisia chamada “Inclusão Social” sem o mínimo do suporte técnico adequado. Não é a toa que 43% dos professores sofrem pelo menos uma das três dimensões da síndrome de burnout. E a vovó idosa que deveria aproveitar os anos dourados de sua vida curtindo seu direito conquistado, agora é amada e amorosa refém de um ou mais netos, filhos de pais executivos, ocupadíssimos na tarefa prioritária de cuidar de seus próprios egos mimados. Quem tem filhos que os cuide!

Neste contexto, a escola trabalha a conscientização dos pais sobre a importância deles assumirem a gratificante e nobre responsabilidade da tarefa em educar seus filhos, e isto tem funcionado bem! Mas, nem tanto quanto deveria, pois alguns pais, na analogia do rio superar “dificuldades” estão deslocando esta demanda da escola para outros pais, amigos da família, ou seja, os pais modernos estão propondo “rodízio de pais” onde em determinados dias da semana o filho de um casal de pais passa o dia na casa de outro casal de pais.

A experiência é até válida se for monitorada, onde os pais conversam com seus filhos sobre as diferenças entre as famílias, regras, cultura, hábitos alimentares, condições sociais etc. De outra forma, se não for bem elaborada a questão “o que a outra família tem que a minha não tem ou não me dá”, certamente mais problemas estarão sendo criados.

Rios podem deslocar fluxos de água, mas pais não podem deslocar responsabilidades na educação de filhos. Podem, no máximo, compartilhá-la com alguém mais experiente, mas nunca transferir de forma sistematizada e à revelia como intentam fazer com esta nova moda do rodízio de pais, pois assim como Tolstoi, também acredito que a verdadeira felicidade está na própria casa e não na casa do vizinho.

"A família é a fonte da prosperidade e da desgraça dos povos." (Martinho Lutero)

Prof. Chafic JbeiliPsicanalista e Psicopedagogo
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