Prof. Chafic Jbeili – www.unicead.com.br
Quando a gente fala em pessoa bruta é comum vir à mente a imagem daquela pessoa grandalhona, rude, grosseira, mas nem sempre isso é verdade. O bruto pode ser algo de aparência bem singela, delicada, com aspecto meigo, mas realmente as aparências enganam tal qual o gato mosqueteiro no filme Shrek: Faz carinha de inofensivo e de repente desembainha a espada mostrando-se agressivo e feroz.
No filme “A espera de um milagre” o ator Tom Hanks interpreta um guarda penitenciário que executa a pena de morte de um inocente condenado pela sua aparência rude e ameaçadora. O filme, baseado num livro de Stephen King, relata o dilema moral entre a verdade sobre o fato criminoso e o preconceito sofrido por um dos condenados que, apesar da altura e aparência assustadora, tem alma de criança e o dom especial de curar.
Eu citei os dois filmes, pois ilustram exatamente a idéia central que quero expor neste texto. O contraste entre o real e o aparente capaz de nos confundir e nos fazer decepcionar com muitas pessoas ao longo de nossas vidas. Certa vez abaixei para olhar nos olhos de uma linda criança e ao tecer elogios ela me cuspiu na cara, os pais apenas riram. Adultos também fazem isso, mas substituem a saliva pelas palavras e expressões mais duras que encontram.
Essa decepção é algo que aparece nos relacionamentos com o tempo e, sobretudo, com a intimidade. Quando se descobre que aquela pessoa aparentemente doce é realmente uma toupeira, então resta a angústia da ingrata surpresa: a estupidez interna mascarada pela delicada feição vem à tona com toda sua pujança. O que era doce se acabou!
Aqui não cabe silogismo. Nem tudo que é belo por fora é bruto por dentro e vice-versa, porém há que se considerar as exceções e cuidar para prevenir-se delas ou aprender lidar com a reação indesejada da desconfortável descoberta.
Lembra do filme “Um anjo malvado”? Aquela criança de rosto angelical apresentava comportamento psicopata. E o filme “Dormindo com o inimigo”? Um cavalheiro carinhoso se mostra o algoz de sua esposa. Os filmes, assim como a vida estão cheios dessas belezas monstruosas. Agradáveis por fora, estúpidos por essência. Tudo é uma questão de tempo!
Infelizmente as pessoas são atraídas pela aparência e depois traídas pela realidade. O coração passa a desejar tudo aquilo que os olhos deslumbram até que o tempo possa revelar o que nos assusta de verdade: A falta de afabilidade em quem porta aparência angelical; ou seja, não é a feiúra estética que nos assusta, mas a debilidade de afetividade nas pessoas que a primeira vista nos parecem belas e atraentes.
Como é terrível estar, viver ou simplesmente trabalhar com pessoas que não temperam as palavras com amorosidade e, ao contrário, (co)respondem como quem cospe verbos bem articulados semelhantes a rajada de pedras.
O sujeito iracundo é um porre. Uma carne de pescoço. Apático e irascível, recolhe-se nas lembranças de uma infância emocionalmente miserável. Carente de tudo e de todos suas reações são quase sempre desproporcionais aos estímulos que recebe. Não desenvolveu inteligência social suficiente para escolher a melhor das várias formas que se tem para dizer ou fazer a mesma coisa. Prefere sempre fazer as coisas conforme o seu jeito estúpido de ser!
O grande sábio Salomão já advertia “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” [...] “A Língua dos sábios adorna o conhecimento, mas a boca dos insensatos derrama a estultícia”.
O pintor Michelangelo disse que "Uma coisa bela nunca causa tanta dor quanto quando não se pode ouvi-la nem vê-la". O jeito torpe de ser e falar encobre qualquer beleza mais aparente, causando ao interlocutor uma dor que não se pode explicar.
A estupidez é característica das crianças que cresceram sem desenvolver adequadamente suas emoções e por isso exprimem da pior forma possível suas opiniões e sentimentos. Quando alguém é privado de afeto na infância dificilmente se tornará um adulto amável e afável. Acabam solitários, sem amigos nem ninguém, pois raramente percebem que para conviver socialmente é necessário se desenvolver emocionalmente à despeito da criação que receberam.
Até marimbondo que escolhe viver com as abelhas pode aprender fazer mel. Parafraseando Vinicius de Moraes, os brutos e estúpidos que me perdoem, mas docilidade é essencial!
Abraços,
Prof. Chafic Jbeili
Consultor vivencial, Psicanalista, Psicopedagogo e Escritor.
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