Prof. Chafic Jbeili - www.chafic.com.br
Para a consecução da compreensão do sofrimento, desde os mais corriqueiros e superficiais até aqueles mais arrasadores e profundos, um elemento é extremamente fundamental para esse processo: Um amigo ou uma amiga de verda de! é nesta hora que um estranho presente vale mais do que um conhecido ausente.
Já foi comprovado cientificamente que a presença de uma pessoa amiga nas primeiras cadeiras de um auditório pode gerar ocitocina suficiente para qualquer orador recobrar sua segurança e autoconfiança, superando o medo de falar em público em meio a tantas pessoas alheias.
A ciência afirma que a ocitocina está presente na contração uterina durante o parto e também na ejeção do leite materno durante a amamentação, causando aquela sensação de conforto, acolhimento e segurança ao bebê provocando amizade eterna entre mãe e filho. Esse hormônio é fundamental na construção e manutenção de vínculos sociais e está amplamente presente nas relações amistosas. Se a presen&cce dil;a de alguém conseguir provocar em seu cérebro a liberação da ocitocina, então pode ter certeza de que o seu afeto por esta pessoa estará determinado. Tanto isto é verdade que a ocitocina foi batizada pelos especialistas como “hormônio do amor”.
Ao contrário do que a presença de um verdadeiro amigo pode aflorar em nós, a presença de uma “perssona non grata” pode inundar nosso corpo com o hormônio do estresse, o cortisol, dificultando ainda mais a atenção, o raciocínio e, por consequência, a sensação de paz e tranqüilidade, conduzindo qualquer um ao estado de tensão, agressividade e instabilidade emocional, o que fará distanciar de tudo aquilo que se pode perceber e sentir como estado de felicidade.
Nesse sentido, as pessoas que são mais afáveis e sociáveis e, por isso, têm maior facilidade em fazer e manter amigos contam com uma espécie de “batalhão de choque” contra os revezes da vida. Assim, quanto mais amigos se conseguem, mais rápido se estancam sofrimentos e superam-se crises.
O contrário é verdadeiro: as pessoas mais afastadas, introvertidas e desprovidas de amigos têm baixa resistência aos problemas do dia a dia. Estão sempre se sentindo inseguras, sozinhas e por isso tendem a ficarem mais ansiosas ao menor sinal de perigo, desenvolvendo uma perspectiva triste, solitária e infeliz sobre sua própria vida, pois se sentem mais frágeis e mais vulneráveis ao que está passando.
Roberto Carlos sabia disto quando afirmou em sua canção que queria ter um milhão de amigos para que pudesse “bem mais forte” poder cantar! Grandes profetas e mestres das religiões enfatiza ram a importância de se fazer amizade e ter amigos para o fortalecimento do indivíduo e do grupo, comparando a pessoa que vive isolada ao pedaço de carvão de brasa extinta porque se afastou do braseiro ou da folha que se rasga mais fácil quando separada da resma.
Jesus promoveu seus amigos discípulos à condição de irmãos, tamanha a comunhão entre eles e instituiu a Eclésia como lugar de proteção e fortalecimento mútuos.
Afastar-se dos amigos em momento de dor e sofrimento não é uma boa idéia. Querer ficar só, estando mal, não é uma escolha saudável. No reino animal, a espécie que se afasta do grupo é alvo das bestas feras do campo. Se em momento de tribulação a pessoa desejar afastar-se de um amigo ou de seu grupo, ou é porque não se sente segura em relaç ;ão àquela amizade ou se sente ameaçada pelo grupo. Assim, tudo que afasta os amigos-irmãos, como a desavença, a desconfiança ou mesmo a falta de tempo e o corre-corre do dia a dia, também diminui a felicidade do indivíduo.
Como cantou Milton Nascimento: “Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito...”. Onde está aquela pessoa que faz seu cérebro produzir ocitocina ao invés de cortisol? Liga pra ela! Amigos duplicam a alegria e dividem a tristeza. Quando há amizade entre casais ou entre pais e filhos os relacionamentos duram muito mais tempo e com maior qualidade, mas quando a presença de uma pessoa libera cortisol na outra, então a dor, o sofrimento e o distanciamento são inevitáveis! O menor problema se agiganta e o ânimo sucumbe.
Não há problema demasiadamente grande ou lugar apertado quan do se está entre amigos, mas o mundo se torna um lugar hostil e pequeno para dois inimigos, não é verdade? Que júbilo pode haver em qualquer coisa se não se tem com quem compartilhar? Que graça tem aquele almoço de domingo; ou um vinho caro; ou um delicioso sorvete; ou ainda a viagem sonhada senão a graça da companhia de alguém? Melhor ainda se for uma pessoa amiga!
Porque será que os comerciais de bebida têm sempre uma roda de amigos? Porque o que dá sabor àquela bebida amarga e intragável é, sem dúvida, a companhia de gente querida. Uma vida sem amigos é uma vida insossa! Nada tem graça, não tem sabor!
Nelson Gonçalves cantou a ausência do pai amigo na canção “Naquela mesa”, pois estava faltando aquele que o compositor chamou de amigo e mais que seu filho era também seu fã. Fábio Júnior sente profunda saudade do pai amigo, saudade esta interpretada na canção “Pai”. De forma que o verdadeiro amigo pode surgir entre pessoas estranhas ou dentro da própria família. Importa que a amizade seja verdadeira e duradoura.
O segundo caminho para a felicidade acontece quando uma pessoa se dispõe a conquistar e manter amigos, sendo amiga! O amigo não precisa ser necessariamente um parente ou um estranho; ser rico, forte ou influente, basta estar presente na quantidade de tempo e com a qualidade de presença suficiente para acolher, alimentar, proteger, compreender e amar. A palavra “amigo” é filha da palavra “amar”.
Triste pensar que boa parte das crianças e pessoas desaparecidas sai de casa por vontade própria em busca de amizade (amor) na rua, nos órgãos assistenciais e até mesmo nos grupos criminosos.
Pais ausentes, entupidos de trabalho, totalmente indisciplinados na divisão de seu tempo perdem a grata oportunidade de desenvolver amizade profunda com seus filhos, mesmo “dando tudo do bom e do melhor”. Mas o homem à toa que fica na esquina pode ser aquele que será chamado de “melhor amigo” pelo filho que se sente abandonado, mesmo às vezes tendo tudo do bom e do melhor.
Qual amizade poderia ser melhor para uma criança do que a amizade de uma mãe ou de um pai? A do cachorro? A de um estranho? Qual pessoa, por mais abastada e sincera que fosse poderia se dizer e se sentir feliz sem que pudesse contar com pelo menos uma pessoa amiga para compartilhar aqueles momentos especiais ou cruciais da vida?
A felicidade só pode ser usufruída se for produzida e, uma vez produzida, para mantê-la latente é necessário que esta seja compa rtilhada. Por isto a amizade é elemento fundamental para a manutenção da felicidade produzida, pois ela só é contínua quando é dividida com alguém.
0 comentários:
Postar um comentário