Prof. Chafic Jbeili - www.chafic.com.br
No texto 1/3 destaquei a necessidade de a pessoa elaborar e compreender o sofrimento como primeiro caminho para a felicidade. Na parte 2/3 falei sobre ter amigos e ressaltei a importância da amizade, nem tanto em quantidade, mas imprescindivelmente em qualidade como sendo o segundo caminho para a felicidade. Vejamos agora o terceiro caminho:
Reflita alguns segundos sobre as decisões e atitudes mais malucas, irreverentes ou revolucionárias que você tomou em sua vida, tendo marcando significativamente a sua história. Lembrou de algo? Pois é! O que você provavelmente fez, se fez, com certeza tem íntima relação com o terceiro caminho para a felicidade.
Já imaginou porque a natureza fascina tanto as pessoas? Sabe por quê elas se encantam com as nuvens, com os pássaros ou com os rios? Porque esses elementos usufruem o que todos seres humanos precisam e querem, às vezes a qualquer custo!
Inúmeras pessoas, de todas as idades, que habitam ao redor do mundo estão agora mesmo pensando em uma saída para mudar a própria história, seja por uma necessidade pessoal, moral, social ou mesmo por uma questão de vida ou morte. O que essas pessoas estão fazendo é buscar o que chamo nesta série de o terceiro caminho.
Certamente a compreensão do sofrimento e bons amigos são elementos chaves para o gozo da felicidade nesta vida, contudo, a felicidade não poderá ser vivenciada em sua plenitude caso a pessoa esteja psicológica, física ou financeiramente privada de sua liberdade ou tenha sua autonomia impedida, prejudicada.
A história da humanidade está repleta de atos revolucionários justificados pelos seus fins de liberdade ou libertação. Desde escravos, prisioneiros e desertores de guerra, passando por vilões e mocinhos até príncipes, profetas e estadistas buscaram de alguma forma a liberdade e a autonomia para si ou para o outro. De que outra forma ouvimos a história de Moisés, Dom Pedro I, Mandela, Ghandi ou Jesus?
Por isto a natureza encanta a todos, pois é livre e autônoma. Depende de regras próprias com base em uma interação natural de elementos. Não aprisiona e não se prende a nada! As nuvens se metamorfoseiam com o vento e os rios se esquivam das rochas, mas cada qual vai em direção de seu destino, sem qualquer impedimento. Até as árvores têm a liberdade de permanecerem onde estão. Na natureza, tanto os elementos móveis quanto os fixos são deslumbrantes porque são livres para serem o que são e estarem onde estão. Talvez por isto o homem perverso agride tanto a natureza, pois ela tem o que ele sequer imagina como há de conseguir a liberdade e autonomia das nuvens, dos rios ou dos pássaros.
Aquilo que o homem invejoso não consegue ou não pode possuir e dominar, então agride e tenta humilhar, subjugar. Quem faz isto contra a natureza, certamente fará contra seu semelhante. No fundo no fundo, todo invejoso é também um perverso e vice-versa.
E as pessoas? Têm liberdade de ser quem são e estar onde estão? Têm elas recursos de autonomia suficientes para se dizerem independentes entre si? Nem sempre, nem sempre! Liberdade e autonomia são coisas desejadas por todos. Quando alguém consegue, o outro silenciosamente entra em desespero!
Humanos são reféns voluntários ou vitimados do tempo mal calculado, do trabalho exagerado, dos compromissos mal agendados, das dívidas mal contraídas, das conversas mal versadas, das idéias mal pensadas, das angústias mal choradas, dos traumas mal analisados e das pessoas mal intencionadas. Quem vive assim, vive uma vida de pouca felicidade; uma vida mal vivida.
Inúmeros filósofos e especialistas do comportamento humano tratam a liberdade e a autonomia dos seres humanos como elementos fundamentais à sua existência. A Constituição Federal dos países democráticos contemplam em sua essência e artigos a liberdade de expressão, a liberdade de ir e vir e até aos presos lhe é garantida a tentativa de fuga como princípio de liberdade.
A liberdade é o valor supremo das Nações e ideal de seus cidadãos. A liberdade pressupõe que todo indivíduo tem o direito de exercer sua vontade nos limites que sua cultura e leis lhe permitem. Nesse sentido, nenhuma pessoa, a princípio, deveria estar (ou se colocar) cativa e submissa à vontade de uma outra pessoa, de uma idéia limitadora, de um trabalho explorador ou mesmo "cativante". Não gosto da frase de Exupéry: "Se tu me cativas...". Ninguém tem o direito de cativar o outro e ninguém deveria se permitir ser "cativado" pelo outro.
Pessoas cativas são pessoas que contrariaram o princípio da liberdade e comprometeram a sua felicidade, pensando que estavam fazendo justamente o contrário.
Toda pessoa conformada a uma situação qualquer de subjugação é também proporcionalmente infeliz. Algumas pessoas que vivem cativas costumam sonhar que estão voando ou que estão correndo. Elas têm fascínio por aviões, pássaros e pela natureza, pois se sentem presas a algo ou a alguém e desejam no recôndito de sua alma a liberdade. Muitas jovens nutrem a esperança de que um príncipe montado em um cavalo branco irá salvá-la da torre-prisão, mesmo estando esta torre no ápice de um castelo imperial! Quantas mulheres têm corrido para palácios e castelos deslumbrantes e depois se vêem prisioneiras do medo?
As crianças são as que mais sonham com a liberdade. Quanto mais se tolhe e reprime a liberdade de uma criança, mais se avoluma a rebeldia dentro deste futuro adolescente. Quando a revolta e a raiva contidas não eclodem até a adolescência é muito provável que então surgirá, proporcionalmente, um adulto ansioso, depressivo ou perverso. Pode-se e devem-se impor limites às crianças, dizer não e determinar o que pode e o que não pode ser feito, mas é um risco altíssimo negligenciar a percepção de liberdade que tal criança constrói ao longo de sua infância. Quanto maior a sensação de privação, maior o descompensação emocional.
Entendo que cada qual faz como sabe e consegue fazer. Uns criam e inovam, enquanto outros copiam ou até roubam. Crianças, adolescentes, adultos ou idosos; todos buscam das formas mais criativas, equilibradas, sensatas e até por meio das atitudes mais tolas, bizarras e criminosas a liberdade e a autonomia que a genética lhe cobra, a natureza lhe inspira e o inconsciente determina. O homem foi criado para ser livre e sobreviver das soluções que criar. A autonomia chega quando a pessoa consegue subsistir com os próprios recursos morais, intelectuais e financeiros, cada qual do seu jeito, na medida em que aprendeu ou viu fazer.
Considerando o dinheiro um meio eficaz para a liberdade e autonomia da pessoa; e considerando que a autonomia é um dos critérios da felicidade, então o dinheiro traz felicidade sim! Porém, a idolatria pelo dinheiro pode ter efeito colateral e trazer infortúnio, pois o avarento pode até ter muito dinheiro, mas perderá verdadeiros amigos, comprometendo o segundo caminho para sua felicidade.
Enfim, a maturidade como a pessoa encara seus sofrimentos; a qualidade de suas amizades e o modo como ela conquista e usufrui sua liberdade e autonomia são, em essência, os caminhos da felicidade que, quando trilhados de forma ética, moral e consciente, gera a felicidade, pois a felicidade não é um destino que se pode chegar e sim os caminhos que se trilham, enquanto se vive. Preciso é saber viver. E quem nos ensinará?
Como os pais têm ensinado seus filhos a encarar os problemas da vida? Como a família e a escola têm sido “modelos” de sociabilização e redutos das amizades sinceras? Como os governos e a sociedade de modo geral têm proporcionado aos cidadãos usufruir liberdade e construir autonomia? Serão os adultos de amanhã pessoas capazes de se sentirem plenamente felizes e realizadas? Assim, para que o futuro seja um lugar amistoso, produtivo e bom de se viver é preciso que seja repleto de pessoas hábeis em lidar com desafios, que sejam amistosas e com equilíbrio de liberdade dentro dos limites, além de autonomia suficiente para sobreviver com o que produz, sem subjugar o outro.