O terceiro pilar da autoestima: A autoresponsabilidade

domingo, 13 de setembro de 2009

Prof. Chafic Jbeili – www.chafic.com.br

Aqui no Distrito Federal prevalece, desde a sua fundação até os dias atuais, a cultura do assistencialismo. Começou com JK oferecendo inúmeras vantagens: promoções, salários mais altos, lotes, apartamentos, isenção de impostos etc. Tudo para atrair profissionais de todos os segmentos e regiões do País com o objetivo de fazer a nova Capital funcionar como qualquer outra cidade. A notícia da distribuição das benesses pelo Governo espalhou-se rapidamente por todo território nacional, atingindo tanto as metrópoles quanto regiões castigadas pela miséria. Famílias inteiras, das mais longínquas regiões do Brasil largaram suas bases de origem e vieram tentar a vida em Brasília. Até aí tudo dentro da normalidade!

O problema começa a partir das pessoas que nasceram no Distrito Federal, em especial aquelas que originaram no seio de famílias mais pobres, como sempre a maioria, e sob o auspício de que teriam de tudo só porque vieram para cá, afinal, quem convida paga a conta!

Acredito que uma quantidade significativa dessas pessoas menos favorecidas foram criadas com base neste maldito princípio constitucional de que o Governo tem a obrigação de fornecer tudo a qualquer cidadão: Desde o parto de seus filhos, a cesta básica, saúde, segurança, passando pela escola, até a moradia e, no fim da vida, bancar o enterro do infeliz deixando é claro a pensão para a viúva e os filhos até completarem 18 anos. O que seria augusta medida de amparo virou vo raz estratégia política!

Governadores mais recentes viram que a idéia de manter eleitores dependentes é uma inestimável fonte de votos e assim programas como bolsa-escola, vale-gás, vale-leite, vale-pão, cheque-educação, renda minha e uns sem números de outros benefícios foram surgindo com a justificativa de ajudar e amparar os mais necessitados, o que é mais do que louvável. Entretanto, estes benefícios no mínimo inibem, quando não roubam do sujeito, algo primordial para sua existência, enquanto pessoa humana e também como cidadão: a atitude da autoresponsabilidade.

Claro que ganhar de tudo, sem empregar muito esforço é uma idéia bem atraente, deveras tentadora. No entanto, nada pior do que uma pessoa crescer e se desenvolver sem a grata oportunidade de ser ela mesma e não o o utro a própria responsável pela realização de seus desejos e felicidade. E se ela não aprendeu ser responsável pela realização de sua própria felicidade, certamente não aprenderá ser responsável por suas escolhas e atos. Por conseguinte, não sendo responsável por suas escolhas e atos, também não admitirá sê-la por seus relacionamentos na família, no trabalho, na sociedade como um todo. De modo que a responsabilidade por sua felicidade é primeiro da família, depois do Estado e inclusive da sociedade, assim ela pensa. Se for infeliz a culpa é do outro, nunca dela!

Chamar a responsabilidade para si não é apenas uma questão ética e moral, mas uma questão de autoestima, pois segundo o Dr. Nathaniel Branden, toda pessoa precisa em algum momento experimentar exercer e vivenciar qualquer controle sobre sua vida, só assim poderá sentir-se competente e merecedora da felicidade.

Lembra do ditado: “Tudo que é de graça não tem valor”? Pois é, quem ganha tudo ou passivamente espera sempre ganhar sem qualquer esforço alimentos, roupas, bolsa de estudo, moradia etc, em um primeiro momento ficará muito feliz pela graciosa dádiva, mas esta pessoa irá se viciar em querer ganhar mais coisas, cada vez mais. Em um segundo momento, obviamente sua autoestima será afetada e então ficará mais sensível do que o habitual. E se a pessoa de quem ela ganhou algo não lhe receber prontamente quando procurada, irá nutrir pensamentos de que está sendo desprezada, rejeitada e, assim, se sentirá inferior. Na verdade já se sentia de alguma forma inferior quando pediu algo, mas posteriormente esta idéia de inferioridade lhe ch ega de forma arrasadora ao consciente.

Trabalhei em uma instituição onde os bolsistas curiosamente eram sempre os alunos mais problemáticos, não que todos sejam; cuidado com o silogismo! Mas aqueles, em especial, quando não eram atendidos na hora sentiam-se humilhados e armavam o maior barraco, citando leis e reivindicando direitos. Isto acontece porque os referidos alunos queriam o benefício da bolsa, mas detestavam admitir para si mesmos a condição de bolsista.

Bolsa é para a pessoa sem renda, com declaração de pobreza emitida por Cartório, em situação de risco pessoal e vulnerabilidade social.

Bolsa de estudos não é modalidade de desconto, mas é justa, oportuna e democrática medida social de amparo aos excluídos que vivem à margem da sociedade. é uma forma de transformar, pela Educaç&at ilde;o, a vida de quem vive na mendicância, por exemplo.

Aqueles bolsistas chegavam de carro à faculdade e odiavam admitir que bolsa é, em sua essência, para pobres declarados e socialmente excluídos. Eles queriam a bolsa e exigiam tratamento especial, nunca igualitário. Isto é um mecanismo de defesa do ego angustiado, como forma de compensar sua perda de qualidade neste importante pilar da autoestima causada pela ausência da atitude da autoresponsabilidade, não porque era bolsista, imagina! Mas porque teve sua atitude de autoresponsabilidade suprimida ou pela superproteção dos pais, ou porque acabou se viciando nos programas assistenciais e agora não sabe viver sem eles.

Veja como anda ereta, autoconfiante e com os olhos no horizonte as pessoas que adquirem suas coisas com o próprio esforço. Quão marcante é o primeiro salário! Que sensa ção de controle e competência usufrui a pessoa. Ela faz questão de pagar suas contas e comprar seus próprios objetos de uso pessoal. Como é importante o papel da mesada para os adolescentes a partir dos 12 anos, aproximadamente. é a forma como os pais educam seus filhos para desenvolverem atitudes de autoresponsabilidade.

é por isto que não concedo bolsa integral nem atendo ninguém de graça. Pois ao dar gratuidade no atendimento estaria roubando do outro a responsabilidade sobre si mesmo e isto é extremamente contraterapêutico. O sujeito me procura porque quer se desvencilhar da dependência familiar e então eu o torno dependente de mim? Claro que não! é ele quem deve arcar com as despesas de suas psicalgias, nem que seja pagando um real, cinco reais, dez reais pela sessão. Ele tem de pagar o que puder pelo próprio bem e é por ist o que sessão de psicanálise não tem preço fixo. O valor é proporcional a renda de cada um para que este assuma a dádiva da autoresponsabilidade e se liberte de suas ilações inconscientes, causadoras das mais terríveis sensações e pensamentos de inferioridade e incompetência.

No meu tempo de escola, por volta dos anos 80, a responsabilidade de passar de ano era primeiro do aluno e depois da família. Nesta época professor era respeitado! Lembro-me que ficávamos todos de pé quando a professora entrava na sala de aula e olha que ela tinha apenas o Magistério. Atualmente, o Governo fez o favor de transferir a responsabilidade da aprovação do aluno para o professor. Este coitado que hoje, mesmo sendo pós-graduado, tendo mestrado ou doutorado, ganha muito mal e é recebido com uma salva de vaias pelos seus “clientes&rdquo ; e ai dele – o professor - se tentar colocar ordem na sala, é despedido!

Quero saber quem foi o bandido que roubou dos alunos a responsabilidade pela própria aprovação e passagem de ano? Este infeliz fez um mal a todos, com consequências catastróficas no futuro, onde os problemas atuais são apenas a ponta deste grande iceberg do caos familiar, escolar e social que iremos viver se medidas não forem tomadas. Há professores que ministram aula sob escolta policial. Isto porque o aluno quer culpar o professor pelo seu mal desempenho, aliás desempenho nenhum. Se o professor cobra, então é ameaçado e agradido.

Os psicoterapeutas nem se fala, mas os governos, assim como as famílias, deveriam resguardar o direito de instruir seus cidadãos e filhos a conquistarem seus desejos. Educar para serem responsáveis pela própria felicidade; a conseg uirem o que querem na medida de suas possibilidades e condições antes de lhes “corromperem” com benesses fortuitas em troca de votos ou, no caso das famílias, como forma de compensação da ausência e descaso por parte dos pais na educação dos filhos.

Se alguém não se esforça para realizar seus próprios desejos é porque ou estes desejos não são seus ou não são verdadeiramente desejos, antes são meras fantasias. Por serem apenas fantasias, transfere-se para o outro a responsabilidade de realizá-las. Ser responsável pela própria felicidade não quer dizer assumir a “culpa” de tudo que acontece de errado, mas significa estar disposto a aprender com os próprios erros e também com o erro alheio.

Há que se ter um equilíbrio, pois ninguém tem o controle total sobre nada, inclusive sobre si próprio, mas também não é para se eximir de qualquer responsabilidade como se a certidão de nascimento fosse uma apólice de seguro, onde esta pessoa acredita poder fazer tudo, sem ter de ser necessariamente responsável por nada, nem mesmo pela própria felicidade.

De acordo com o Dr. Nathaniel Brandem, apresentado no primeiro texto desta série, o balizamento da autoresponsabilidade reside na adoção de métodos que possam gerar modificações na consciência individual. Estes métodos são reflexões diárias e sistemáticas, por meio de perguntas do tipo: “Se eu assumir mais 5% de responsabilidade pela realização de meus objetivos.......... (o que acontecerá? O que terei de fazer?)”.

Falta de responsabilidade é a pessoa esperar que a família, o Governo, a Igreja, os colegas de sala, a equipe de trabalho e as pessoas de modo geral farão as coisas para ela e por ela. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer! Cada qual, como artista que é, deve assinar como autor desta tela, onde pinta o quadro da própria vida!

Na próxima segunda escreverei sobre o quarto pilar da autoestima: a atitude da autoafirmação.

Um abraço,

Prof. Chafic

www.chafic.com.br
chafic@chafic.com.br
Brasília-DF - Brasil

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